terça-feira, 21 de setembro de 2010

Desalento


"Diz assim que eu chorei, que eu morri de arrependimento
Que meu desalento, já não tem mais fim..."
Parado agora sobre os escombros do que de mim sobrou, é difícil olhar o que a minha volta ainda está de pé. Eis que carece de exatidão detalhes do fato consumado, consumido pela poeira.
Leva... corre e leva tudo que está aqui, até você mesma. Faça isso correndo, porque se eu te ver por mais algun minutos, sou capaz de me jogar aos teus pés; não eu penso, eu penso, eu nunca seria capaz de fazer isso. Desalento, desatento, exatidão, momento, palavras... chão, cá no chão estão as palavras que querem transbordar minha boca, entretanto estão aqui, cá dentro da minha cabeça. Lá, cá, aqui, alí, volte tudo, desde o início e vague pelo que por ter sido tudo, nos encheu de um nada profundo, no fundo, do poço; o esboço do inferno que eu vivo se transparece na ausência de alguém. Palavras não são palavras e a saudade não é doce, não. Saudade é salgada, hipertensa, matou a si mesma por excesso, ou foi o acaso?
Diz pra àquela, ela, a mulher da porta de trás, que saiu sem nem me dar sinais de que voltaria. Vago na noite, vago no dia... e a lua que é um abajúr brilhante, lantejoula da NASA e irradia natapeçaria do chão de barro, daquele que perdeu o teto e ganhou de Deus as estrelas, que correu pro rio e as viu refletidas no mar para que pudessem ficar mais perto, mas que do rio de fez deserto e na seca tudo é dor, das frases de Camões, das películas de Álmodovar, músicas de Chico, o rio eu morreu. Sim, lá estava, não passa mais. Implodido, agora, abriga dentro de si somente seus ossos, seus restos mortais e o desalento singelo, dilacerante de atracar em qualquer porto, morto, sem cais.
"Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme
O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre nem triste nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta
Velho Chico vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só, eu só, eu só, eu
Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas, na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê
Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme"

2 comentários:

  1. Muito bem...lindo texto..
    Ganhou uma nova fã!
    Passarei sempre por aqui!
    :) beijos
    Camila (SP/André)

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